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Coluna do Heródotoparece mas não é

Militares na porta do palácio

By 16 de novembro de 2021No Comments

Há um debate inflamado se miliares podem ou não participar da política. Há quem defenda que eles são cidadãos fardados e por isso tem o direito e o dever de se envolver na solução dos problemas nacionais. Outros são partidários da separação entre militares e civis. O governo deve estar nas mãos dos civis e não na caserna. Ainda assim há um influente militar que é favorável ao pronunciamento político na mídia, e ensina aos jovens cadetes da academia que a república ditatorial é a melhor forma de governo. Está sempre na mídia com artigos ou reportagens Sem um governo forte, austero, autoritário e dominante em todo o Brasil, o país não sai do subdesenvolvimento, diz o professor. Há planos para o crescimento econômico além das fronteiras do agronegócio. Só o desenvolvimento da infraestrutura e de indústria são capazes de arrancar o poder das mãos dos latifundiários que infelicita a pátria desde a instalação da indústria canavieira no nordeste ainda no começo da colonização. O debate esparrama dos quartéis para as ruas e destas para os jornais. Também na mídia há quem defenda o status quo e os que são favoráveis a uma transformação profunda na forma de governar o Brasil. O povo aparvalhado não tinha lugar em plano nenhum.

O movimento para derrubar o governo e não o regime, conta com poucos deputados na câmara e quase nenhum no senado, uma casa considerada essencialmente conservadora. Assim, grupos de civis se reúnem especialmente na capital da república para conspirar. É verdade que há liberdade de imprensa e os jornais oposicionistas aprofundam a crise política o quanto podem. Abrem manchetes contra o governo, escondem notícias favoráveis e dão grandes espaços para críticos do regime. O Brasil é o único país das Américas que mantém um sistema incompatível com os ideais dos fundadores das diversas nações latinas. Mais de uma vez as mudanças nacionais foram feitas por alianças político-cívico-militares. Por que agora seria diferente ? O sistema não se atualiza, está totalmente incompatível com as mudanças do mundo cada vez mais industrializado e capitalista. O Estado é acusado de ser refratário a uma reforma que modernize o país e permitir a ascensão de pessoas vindas de outros estratos do Brasil. É uma luta entre o passado e o futuro dizem os conspiradores.

Os conspiradores, militares e civis, não movimentam o povo. Política é apenas para um grupo que tem acesso ao poder. O chefe do governo pune os militares que desrespeitam o regulamento dos quartéis e são ameaçados de prisão. Há movimentação de tropas nos quartéis e a qualquer momento eles poderão sair para o centro da cidade e começar uma revolução. Falta um chefe. Os jovens cadetes, liderados pelos seus líderes militares, professam a ideologia comtiana. Para isso é preciso derrubar não o chefe de governo, Visconde de Ouro Preto, mas o próprio imperador Dom Pedro II. O chefe escolhido é um herói da guerra do Paraguai, marechal do exército, monarquista e amigo do imperador, Deodoro da Fonseca. A conspiração usou e abusou das fake knews . Os mais estranhos boatos circulam nos jornais, nos quartéis e nos elegantes cafés do Rio de Janeiro. Os ânimos se acirram ainda mais. Os conspiradores convencem Deodoro a liderar uma tropa para derrubar Ouro Preto, acusado de mandar prender o marechal. Uma vez na praça, novas fake News. Todos serão presos. Deodoro adere aos republicanos e assina o documento que põe fim ao império, instaura a república e vai ser o chefe do governo provisório. Inaugura-se um ciclo de intervenções militares na política que chega ao auge em 1964. E o povo ?