Amazônia está de novo no olho do furacão. Os debates se tornam cada vez mais apaixonados. A ciência nem sempre é convidada para dar opinião. As acusações são as mais variadas de lado a lado. Vão das teorias conspiratórias que revelam que nações estrangeiras imperialistas querem tornar a região um enclave internacional, administrada pela ONU, até os que defendem a preservação das tribos locais com o mesmo estágio tecnológico quando da chegada dos portugueses no século 16. Os fóruns de debates são cada vez mais frequentes, a maior parte deles na Europa e nos Estados Unidos. O governo brasileiro também não escapa da fuzilaria e é constantemente apontado como o responsável pelo subdesenvolvimento da Amazônia e impede o desenvolvimento regional. É responsável também pelo atraso de países fronteiriços como o Peru e a Colômbia. Talvez seria o caso de contratar uma consultoria internacional para preparar planos que possam apontar um norte para o desenvolvimento. Escritório internacional, é claro.
O plano contratado aponta o que o potencial provável tem duas vertentes. A exploração de minérios estratégicos e o aproveitamento da água para gerar energia elétrica. Segundo este estudo, publicado em um best seller mundial, o Brasil não tem recursos para implementar nem um nem outro. Por isso é necessário abrir para os investimentos estrangeiros. As riquezas minerais podem ser transportadas por via fluvial até portos onde navios seriam carregados e seguiriam para os mercados internacionais. O plano também avalia a possibilidade de exploração de petróleo, um produto que vive aos sobressaltos por causa das crises constantes no Oriente Médio. E elas nunca foram tão intensas com guerras e ameaças de boicote por parte dos países produtores. A divulgação do plano cai como uma bomba no meio político. A imprensa abre amplos espaços para reportagens e debates. Há resistência no mundo político e até mesmo nas forças armadas brasileiras identificadas com ideais nacionalistas. A proposta abre ampla possibilidade para a internacionalização da Amazônia. Outras indústrias, como a farmacêutica, também têm projetos para pesquisas e utilizar a grande biodiversidade para a produção de remédios.
A proposta central é construir uma barragem de 2 quilômetros de extensão sobre o leito do baixo rio Amazonas, com 100 metros de profundidade. Através dele é possível, diz o Instituto Hudson, implementar o comércio com outros países e facilitar o escoamento dos minérios para os portos. Toda a bacia do Rio Amazonas seria transformada em um imenso lago. Há que diga que o projeto é inexequível e que isso poderia até mesmo alterar o equilíbrio do planeta pela imensa quantidade de água armazenada. Os danos sociais seriam imensos. Cidades como Manaus, Óbidos e Belém poderiam ser parcialmente inundadas. As populações ribeirinhas desapareceriam assim como toda flora e fauna da região. O chefe do Instituto, Hermann Khan, autor do livro O Ano 2000, é considerado um futurólogo. Opina sobre todos os assuntos que assustam a humanidade como a explosão populacional e um conflito nuclear entre a União Soviética e os Estados Unidos. A publicação de 1967 traz outros projetos próprios de um megalomaníaco. Khan, chegou mesmo a ser capa de O Pasquim, um jornal da oposição. Na medida que suas propostas são rejeitadas pelo bom senso e pela ciência, o tal plano dos lagos amazônicos vai para a estante da ficção política. E Khan se imortaliza uma vez que inspira o genial cineasta Stanley Kubrick a produzir o filme Doutor Fantástico e na cena final o personagem monta em uma bomba atômica e se lança com ela sobre uma cidade da União Soviética. Faz 54 anos que o livro foi lançado.