De olho nas verbas governamentais de publicidade. Esse é um dos objetivos
dos responsáveis pelo faturamento da mídia. A população raramente é informada
sobre quanto o governo gasta em propaganda e para quem é destinada essa dinhei-
rama. Os responsáveis pela distribuição do dinheiro do contribuinte creem que isso
é um investimento e não um gasto. Esperam uma cobertura mais “amiga” dos atos
administrativos e polêmicas em que o governo se envolve. Mas nem todos se curvam
e insistem em fazer um noticiário crítico. Então, não resta alternativa senão suspender
a compra dos espaços publicitários com comerciais dos diversos serviços oferecidos
pelo governo, como crédito mais barato, campanhas de vacinação e roteiro de obras
prometidas na última campanha eleitoral. Há um verdadeiro exército planejando e
organizando a publicidade estatal. Isso inclui a produção de noticiário diário, princi-
palmente com a agenda do chefe do Executivo, e distribuí-lo para todos os veículos
da capital e do interior. Estes são mais abertos a aceitar o noticiário “chapa branca”,
como é rotulado pelos jornalistas mais críticos do governo.
As estatais são a vaca leiteira das verbas publicitárias. Dificilmente alguém
investiga quanto e onde foram gastos os milhões em publicidade. Como são enti-
dades independentes, podem agir com mais facilidade na distribuição dos anúncios
nos veículos de comunicação. Além da divulgação da gestão atual, tem produtos
vendidos no mercado que precisam de divulgação. E realmente precisam, a não ser
que seja um monopólio estatal onde não há concorrência. Mesmo assim, os anún-
cios de toda ordem são preparados por agências contratadas, geralmente com bom
nome na praça e custos altos. Há uma coordenação entre as empresas e o governo
para que a divulgação seja eficiente e, direta ou indiretamente, divulgue os acertos
e sucessos da gestão atual. Todos sabem que a longo, médio ou curto prazo isso vai
desaguar na eleição mais próxima. É o que os analistas políticos chamam de ter o
apoio da máquina para a vitória política nas urnas. O investimento estatal em propa-
ganda é um elemento estratégico para o grupo que almeja permanecer no poder. No
Brasil, há vários casos que ilustram essa política que alguns criticam, pois inviabiliza
uma disputa igualitária entre quem está no governo e seus concorrentes.
A direção da empresa aérea recebe uma ordem do governo. Quando o
jornal O Estado de S. Paulo publicar artigos de capa com críticas ao governo esta-
dual paulista, ele não deve ser distribuído para os passageiros da Vasp. A empresa
é estatal e há forte controle sobre o que se pode e o que não se pode ler durante os
voos. Especialmente os que partem do Aeroporto de Congonhas para Brasília. Antes
da partida, o pessoal responsável pelo abastecimento do avião com jornais e revistas
deve saber se pode ou não colocá-los a bordo. Isso não impede que passageiros
comprem o “Estadão” no aeroporto, leiam e passem para outros passageiros – afinal,
a viagem dura, pelo menos, uma hora e meia. A censura é severamente criticada pe-
los políticos que demandam Brasília, e até mesmo ex-governadores, agora investidos
como membros do Congresso Nacional. A saída é privatizar a Vasp, Viação Aérea
São Paulo, mesmo porque dá um prejuízo anual de mais de 120 milhões de reais.
Os bairristas de plantão são contra. Imagine São Paulo ficar sem uma empresa aérea
que carrega a bandeira dos bandeirantes e, mesmo abatida por novas empresas aé-
reas concorrentes, tem uma boa verba publicitária para ser investida!