Não é por falta de polêmicas que a opinião pública não se movimenta. Algumas delas vêm ainda do tempo da ditadura. Mesmo com um presidente eleito democraticamente há quem diga que ninguém pode sequestrar os símbolos nacionais.
Nem a bandeira, nem o hino, nem o brasão e muito menos os feriados. Assim, datas importantes para a História do Brasil, como a proclamação da república, a morte de Tiradentes devem ou não ser homenageadas com desfiles cívico-militares?
No governo anterior, o presidente explorou essas e outras comemorações para divulgar o seu regime e consolidar sua força política. Usou e abusou do culto à personalidade e até compositores da música popular se engajaram criando os chamados sambas-exaltação. Desfiles de comemorações com a participação de estudantes, demonstrações coletivas de ginástica, fanfarras, grupos sindicais, forças armadas e outras categorias ocuparam praças, avenidas e estádios.
Os partidos políticos e a mídia se dividem sobre o quê e como se deve comemorar os feriados históricos nacionais. Há os que defendem a diminuição dos feriados em um país que está em situação financeira e econômica instável, com a inflação corroendo os salários e o achatamento das classes médias.
Dizem que é hora de se aproveitar da conjuntura internacional favorável com a aproximação com os Estados Unidos, o principal parceiro comercial do Brasil. Ter estoques de commodities para exportação, obtenção de dólares e compra de maquinário para dar novo impulso na industrialização do país. O fato é que existe saldo acumulado nos últimos anos graças às exportações de produtos considerados estratégicos.
Portanto, não falta moeda estrangeira. Do outro lado há os que defendem um distanciamento dos interesses americanos, qualificados por estes como imperialistas. Há outras opções comerciais no mundo e por isso não é preciso nem diminuir os feriados nem se atrelar a um único grande comprador.
Material militar para os desfiles não falta. O governo importou uma boa quantidade para aparelhar as forças armadas, cada vez mais espelhadas no modelo americano. O presidente, ex militar, não esconde que serviu a ditadura e só com a decadência do regime se opôs a ele. O general Eurico Gaspar Dutra, durante quase dez anos assessorou o ditador Getúlio Vargas, durante o Estado Novo. Dutra teme que comemorações possam dar espaço para manifestações de esquerda, lideradas pelo recém liberado Partido Comunista Brasileiro e criar mais feriados aumentam esse temor.
Após muita pressão do Congresso Nacional, ele assina o decreto que institui o feriado da Independência, em 1949, 127 anos depois do ocorrido no riacho do Ipiranga, em São Paulo. O evento atravessou todo o Império, a república velha e o período Vargas e só é reconhecido tardiamente. Contudo, dizem os políticos e jornalistas que assistem a redemocratização com a nova constituição em vigor, veio para ficar.