O país vive mais uma crise política. A atual se aprofunda e se torna institucional. Envolve partidos políticos, Judiciário e Exército. O resultado da eleição presidencial, que deveria ser aceito por todos, é contestado pela oposição. Esta faz uma série de alegações e quer que seja realizada uma nova eleição. Alega que a diferença entre o primeiro colocado e o segundo é muito pequena e que o vencedor não conseguiu a maioria dos votos. Juristas consultados pelos jornais dizem que não há nada na Constituição que imponha esse procedimento. A direita, derrotada mais uma vez, incita manifestações políticas, especialmente na capital do Brasil. Quer que as Forças Armadas intervenham e impeçam a posse do eleito. Isso aprofunda ainda mais a crise, uma vez que, principalmente o Exército, se divide entre os chamados conservadores e legalistas. Ninguém sabe como isso vai terminar, e já se teme por um golpe de estado militar, frequente na história da República brasileira.
O debate institucional se aloja nos meios de comunicação. Jornais e mídia eletrônica se posicionam contra e a favor da posse do candidato vencedor da eleição presidencial. A opinião pública, graças à mídia, também está dividida. Os conservadores anunciam que o país está à beira de ser governado por esquerdistas, uma vez que os comunistas divulgaram que apoiam o candidato eleito. Por sua vez, a esquerda acusa a direita de estar mancomunada com o capitalismo internacional, ávido por investir e controlar as riquezas nacionais, principalmente os minérios estratégicos. Os ânimos exaltados de ambos os lados extravasam para as universidades, grupos políticos, entidades empresariais e sindicatos de maneira geral. A normalidade democrática garantida pela Constituição não se concretiza. A população, de uma maneira geral, está mais atenta às questões sociais, uma vez que a inflação corre solta, os preços dos produtos de primeira necessidade sobem nos mercados e a oferta de trabalho com carteira assinada é insuficiente para absorver a mão de obra disponível.
O candidato eleito, por sua vez, tenta ser o mais conciliador possível. É conhecido por sua capacidade de juntar apoios na direita e na esquerda. É um político experiente, foi deputado federal, prefeito e governador. Ainda assim, o líder da oposição, Carlos Lacerda, conclama que de forma alguma se deve permitir a posse de Juscelino Kubitschek. O jornalista, com agressividade, ataca os adversários e defende abertamente o que chama de regime de emergência. O Brasil ainda não tinha se recuperado do trauma do suicídio de Getúlio Vargas e por isso a eleição deveria ser adiada por um ano. Diante da derrota do seu candidato, General Juarez Távora, e a vitória da coligação liderada pelos Partido Social Democrata e Partido Trabalhista Brasileiro, a saída é impedir, a qualquer custo, a posse de JK e do seu vice João Goulart. O país chega à beira de uma guerra civil. Os políticos da União Democrática Nacional contam com o apoio da ala conservadora do Exército e do presidente da República interino, Café Filho. Este, por motivo de saúde, é substituído pelo presidente da Câmara, Calos Luz, também aliado de Lacerda. No dia 11 de novembro de 1955, o Ministro da Guerra, General Lott, tira as tropas dos quartéis e ocupa posições estratégicas no Rio de Janeiro.
Ele impõe, mais uma vez na história do Brasil, o estado de sítio até a posse da dupla JK e Jango. Essa ação fica conhecida como contragolpe ou golpe preventivo. Juscelino governa por 5 anos e transfere a capital da República para Brasília.