Chegar à presidência da república não é fácil. Além de provar que tem apoio de ampla camada da população é preciso convencer os companheiros do partido que pode ganhar a eleição. Os partidos não têm programa nem ideologia definidos, são mais um aglomerado de propostas que promete colocar em prática caso vençam a eleição. Portanto, é vital conquistar o apoio dos convencionais, sem os quais não se tem legenda para concorrer. O costume é que seja apresentado apenas um candidato, não só para mostrar ao eleitorado que o partido está unido em torno de um único nome, e que não há disputa que possa dividir os políticos. O pior cenário é quando o partido escolhe um nome e um grupo cristianiza o candidato e pede voto a um adversário. Impensável nas democracias mais antigas, contudo, no Brasil, o fenômeno é comum. Isto reforça que as siglas são meros conglomerados de papeis para atender a legislação vigente, dominados por um grupo oligárquico que tem em mira dominar a máquina burocrática. Principalmente a federal, imensa, espalhada por todo o país, detentora de cargos que possam abrigar afiliados e filiados dos caciques políticos. Candidatura independente nem pensar.
Ainda que o ambiente de disputas seja raro no interior dos partidos, a escolha é inevitavelmente realizada de cima para baixo. Há a necessidade de uma cerimônia pública, com discursos inflamados e grandiloquentes com ampla cobertura da mídia. Jornalista é sempre bem-vindo na convenção nacional que vai escolher o candidato à presidente da sigla. As chamadas, as análises, os comentários têm pouco poder de convencer o eleitorado do acerto da escolha. É dirigido mais para os políticos espalhados pelos estados que tomam decisão se vão ou não apoiar o ungido. Não há fidelidade nem partidária, nem de nenhuma espécie. O que influi é o histórico toma cá, dá lá, o carreador de apoio das elites políticas estaduais. O encontro dos convencionais não tem o tamanho e a importância das convenções americanas, com muito dinheiro, festa, bandeiras nacionais, delegações de todas as partes do pais e sequências de festas, jantares e convites de toda ordem. Um verdadeiro woodstock nacional. Os partidos brasileiros juntam grupos organizados de claques que, geralmente, têm sua despesa bancada não se sabe por quem. Ou melhor, se sabe, mas não se divulga. Afinal ninguém quer perder a chance de chegar à presidência por um detalhe sem importância Se quiser vencer na política junte-se ao grosso do exército e deixe as escaramuças para os medíocres.
A convenção abre escancarada com o filhotismo parasitário, a caça desenfreada por altos cargos burocráticos, num país extremamente necessitado de educação eficiente, de uma administração pragmática e utilitária. Nas galerias do prédio no centro da capital do Brasil, os convencionais estão divididos. Há dois candidatos que disputam a legenda. De um lado o jurista Rui Barbosa, de outro o representante do Brasil na Conferência de Versalhes, Epitácio Pessoa. O processo de escolha de dá no meio de gritos, xingamentos, ameaça de pancadaria e até de morte. A reunião vira um pandemônio, um escarcéu como reproduz um jornalista. Sempre eles… Há um corre-corre no prédio e capangas dos caciques regionais são acionados. É melhor votar antes que ocorra uma tragédia. O ex-ministro da fazenda, Rui Barbosa, recebe 42 votos. O ex-ministro da Justiça, Epitácio Pessoa,139. Vaias e aplausos são ouvidos na rua. Rui perde o apoio de várias oligarquias regionais ao não abrir mão de seu projeto de reforma da constituição da república de 1891. Havia o temor de perda de poder local, o que não aconteceria com Epitácio. Isto foi decisivo. Aparentemente, houve um ruptura da política do café com leite, mas o paraibano tinha apoio de paulistas e mineiros. Resta a Rui se atirar na campanha pelo Partido Liberal e seu oponente pelo Republicano. É a segunda derrota do Águia de Haia em disputas presidenciais. E as oligarquias comemoram mais uma vitória.