As verdades se impõem sem que se pergunte se realmente elas são ou não eternas. Entre as máximas reunidas pela monja Coen, uma boa parte delas não só são conhecidas, como somos capazes de falar de cor. Neste livro a monja Coen desestabiliza essas verdades eternas e mostra com muita sabedoria e bom humor. Elas têm outras leituras que levam à reflexão e um conhecimento melhor do íntimo de cada um de nós.
A releitura dessas “verdades” motiva o entendimento que o budismo é a religião da paz, meditação e não violência. O próprio Buda fez uma releitura das verdades que prevaleciam em sua época, uma vez que era apenas um homem. Essa busca da verdade mais profunda proporcionou a descoberta que todas as coisas são compostas e permanentes, todas as emoções são dor e tudo é desprovido de existência intrínseca. Assim é uma falácia imaginar que algumas emoções são puramente prazerosas, que as substâncias são permanente, têm existência intrínseca e que a iluminação existe dentro das dimensões do tempo. Assim os fenômenos descritos nas tais “verdades” são compostos e portanto impermanentes. Isto quer dizer em outras palavras que precisam ser relidos e reavaliados constantemente. Não é difícil perceber que vivemos em uma época onde nunca as mudanças foram tão rápidas. Somos atropelados por elas mais de uma vez por dia.
As “verdades” são repetidas à exaustão, sem qualquer crítica interna, passam de geração para geração, assim como procuramos a fonte da juventude, a imortalidade, o Santo Graal, o pote de ouro no fim de um arco íris e outros mitos. Alguns são até infantis, mas ainda assim muita gente acredita e acalenta. Têm direito, é claro, mas no fim da estrada ao invés de um pote de ouro se encontra frustração, depressão e infelicidade. Todos nós quando nos levantamos de manhã iniciamos uma luta pela busca da felicidade. No entanto o que é felicidade? Seria aquela que Jefferson escreveu na declaração da independência dos Estados Unidos, ou o mendigo que quer juntar umas moedas para comprar comida e não morrer de fome ? Talvez essa palavra seja a de maior subjetividade no nosso bornel de conhecimentos.
Entre os obstáculos que dificultam a obtenção da felicidade, seja lá o que isso for, estão o medo e a ansiedade que dominam a mente humana. O medo está associado ao desconhecido. E qual a saída para isso? Se o Buda pudesse participar deste texto diria que a chave para a libertação do medo é o reconhecimento da impermanência, uma vez que sem isso não há progresso nem mudança para melhor. Imaginar que as coisas são permanentes, é um falso raciocínio. Alguém pode até dizer que em time que está ganhando não se mexe. Contudo o apego ao conceito de permanência pode levar aos dois opostos, falta de esperança de um lado ou a esperança cega de outro. Nenhum dos dois conduz a felicidade. Trazem mais sofrimento e frustração e tornam a vida sem sentido.
A visão fica mais clara e a condução da vida fica mais fácil se entendermos que a vida é impermanente uma vez que é composta de uma miríade de fenômenos impermanentes. A questão está colocada neste livro: vamos repetir os adágios dos nossos antepassados como mantras ou vamos fazer uma releitura deles? A decisão é sua .
Heródoto Barbeiro é budista educado na tradição Soto Zen.