Pelo menos é o que dizem as manchetes dos principais jornais que circulam na capital da república. Há um racha entre o ministro da fazenda e o presidente da república considerado vital para a manutenção da política econômica do governo, diz a mídia. O ministro tem se mostrado inflexível em suas propostas e argumenta que é preciso arrumar a casa, doa a quem doer. E dói no bolso dos exportadores do agronegócio que tem como mira os mercados internacionais e para isso precisam de uma moeda nacional desvalorizada em relação às moedas dos países compradores dos produtos agrícolas brasileiros. Com o câmbio mais forte o produto brasileiro fica mais barato no exterior e os produtos industrializados importados mais caros. Com isso cai o consumo e, segundo o ministro, vai ocorrer uma recuperação da balança comercial e de pagamentos do Brasil e assim reconquistar a confiança dos banqueiros internacionais que refugam em conceder novos empréstimos em moeda forte para o país. Ele é partidário de uma ampla reforma econômica e encontra forte barreira nos banqueiros e na maior parte da elite nacional. A população assiste abobada ao debate em torno da política econômica.
O ministro não esconde suas críticas aos governos anteriores. Eles são responsáveis pela crise econômica e financeira vivida pelo Brasil. A oposição o acusa de ser um liberal desenfreado e totalmente contrário a intervenção do Estado na economia. O ministro é favorável ao liberalismo econômico e defende que só os mais capazes devem sobreviver economicamente. Não esconde quais são os seus gurus na teoria econômica, ainda que o debate se reduza à inflação, falta de dinheiro, queda das exportações e encarecimento dos produtos importados. A elite econômica se recusa a viver sem os objetos de luxo importados, como porcelanas, roupas de grife, vinhos premiados e outras delicadezas que não chegam na mesa da população. Ele diverge totalmente do ministro antecessor que elegeu os campeões nacionais e que receberam autorização para desenvolver artificialmente empresas que só existem no papel. Boa parte quebrou e muita gente perdeu tudo o que tinha. É favorável a divisão internacional do trabalho e que cabe ao Brasil se projetar na área agrícola. Por isso é rotulado de anti industrialista.
O Presidente da República nem sempre apoia a política econômica do ministro da fazenda. Mas isso lhe custa perda de apoio tanto no Congresso Nacional como nos estados. A população não perde oportunidade de mostrar sua insatisfação com demonstrações públicas. Os jornais aprofundam as críticas com manchetes alarmantes. Joaquim Murtinho, ministro da fazenda do governo de Campos Sales, está empenhado em equilibrar as contas e não em agradar os que querem auxílio do Estado e grande quantidade de moeda irrigando a economia. É favorável a reduzir o meio circulante e a um acordo com os banqueiros estrangeiros conhecido como funding loan. A solução da crise deve ser administrada pelo próprio mercado e a intervenção oficial só aumenta os males vividos pela jovem república, decide Murtinho. O Brasil se prepara para viver todo o período da chamada república velha pendurado nas exportações da monocultura do café. O edifício econômico apoiado em uma única coluna resiste ante os ataques da super produção, queda do preço nos mercados mundiais, mas não resiste ao tsunami da crise do capitalismo de 1929. Está aberto o caminho para derrubar o Washington Luis e pôr no poder um representante da oligarquia dissidente, Getúlio Vargas.