A polêmica é sobre a escolha do candidato à vice-presidência. Até esta eleição não se dava muita importância para o cargo. É considerado pela população apenas como um personagem sem importância. Afinal o Brasil é uma república presidencialista e o eleitor mira a escolha de alguém que acredita que vai melhorar a vida de todos e tirar a vaca do brejo. A tradição política identifica o chefe do poder executivo como o salvador da pátria. E ele não tem substituto. A história do Brasil tem vários exemplos quando os vices assumiram apenas para completar o mandato do presidente. Contudo há exceção. A primeira dupla republicana culminou com a renúncia do marechal Deodoro da Fonseca e sua sucessão pelo marechal Floriano Peixoto. Este descumpriu a constituição que determinava uma nova eleição presidencial se o titular não tivesse governado pelo menos metade do mandato, 2 anos. Floriano, com o apoio do exército, declarou que ficaria até o final e governou como um verdadeiro ditador. Daí para frente o que se espera é que o vice cumpra o seu papel secundário de assumir em apenas casos excepcionais. Uma sombra, nada mais.
A radicalização política provocada pela eleição põe frente a frente os conservadores de um lado e a esquerda de outro. Os partidos pregam uma aliança, uma chapa que possa conciliar políticos de posições diferentes. Assim, se atende, ao mesmo tempo, a elite política que governa o Brasil e os movimentos sindicalistas e sociais que lutam por um plano de governo progressista. Há quem duvide que isso possa ser possível uma vez que os interesses são contraditórios. Nos jornais, há um debate acirrado, com ofensas entre os dois principais candidatos à presidência, quando um acusa o outro de corrupção e por isso nenhum dos dois têm condições de governar o Brasil. Teme-se que o confronto chegue a um radicalismo e não se descarte uma convulsão social. Afinal, o último presidente do Brasil tinha um altíssimo nível de aceitação mesmo depois do seu segundo mandato. Há quem não descarte uma intervenção militar, um golpe para impedir que a esquerda chegue ao poder, por via eleitoral ou não, para implantar um regime socialista, comunista, progressista ou outro nome qualquer divulgado pela oposição de direita. Os jornalistas abraçam emocionalmente as teses dos candidatos antagônicos.
As eleições são desonestas, dizem os editoriais. Os conservadores querem mudar o sistema eleitoral com a adoção de uma cédula única. A um mês antes da eleição, o partido de oposição alerta que há um complô contra a indicação do candidato a vice -presidência da república. João Goulart é chamado do comunista pelos líderes da candidatura de Juscelino Kubitschek apoiado pelo establishment. Não há como conciliar. Contudo a constituição em vigor, a de 1946, o voto para presidente é dissociado ao do vice. É possível votar no cabeça de uma chapa e no vice de outra. Jango, ex- ministro de Vargas, estancieiro no Rio Grande do Sul, tem o apoio da esquerda. Há ameaças que se Jango for eleito, não vai tomar posse. O resultado do pleito dá vitória para Juscelino, Juarez Távora em segundo e Adhemar de Barros em terceiro. João Goulart é o primeiro colocado e Milton Campos, o vice oficial de Juscelino fica em segundo. Apesar das ameaças de golpe de lado a lado, a Justiça eleitoral proclama a eleição dos vencedores sem a intervenção das forças armadas. Jango seria reeleito como vice de Jânio Quadros.