Os ataques contra o candidato à presidência começaram há cinco meses. Ninguém, com certeza, sabe o que vai acontecer quando for divulgado o resultado das urnas. Nem mesmos os jornalistas políticos que se agruparam contra e a favor do candidato. Há narrativas preocupantes sobre o destino da República brasileira, e teme-se por uma intervenção militar e a implantação de uma ditadura. Há quem afirme que se deve apresentar um candidato militar, de preferência um que tenha experiência e possa conduzir o Brasil em direção à modernidade. O que se almeja nos quartéis é que se cumpra o que está escrito na bandeira nacional: Ordem e Progresso.
Para isso, segundo a oposição, é preciso tirar o poder daqueles que dominam o governo há, pelo menos, duas décadas. Há uma clara divisão no mundo político, especialmente na capital do país.
Segundo os mais radicais opositores do candidato apoiado por Minas Gerais e São Paulo, é preciso impedir a posse, caso seja eleito. As urnas eleitorais são suspeitas de fraude, os empregadores pressionam seus funcionários a votar no candidato oficial, rios de dinheiro circulam para comprar votos onde isso for possível. De outro lado, a situação acusa de golpistas os que querem um pretexto para não respeitar o resultado da eleição. A radicalização chega a um ponto explosivo, e ninguém pode antever o que vai acontecer em outubro. Fala-se até de uma guerra civil, uma luta de classes, uma disputa do “nós” contra “eles”, dos proprietários de terras do agronegócio contra os que nada possuem. Enfim, só falta um levante militar para piorar o clima político do Brasil. Isso tudo no ano em que seco memora de maneira festiva a independência e as figuras que estiveram envolvidas no episódio como D. Pedro, Leopoldina, Bonifácio, Gonçalves Ledo, José Maria Lisboa e outros heróis da separação da Colônia brasileira da Metrópole portuguesa.
Não há busca de isenção e pluralismo na imprensa. O jornalista Edmundo Bittencourt, dono do jornal Correio da Manhã, mesmo sabendo que o material oferecido contra o candidato era falso, resolveu comprar. Sabia que era uma farsa, mas na sua opinião, impediria e eleição do mineiro Arthur Bernardes. Ao publicar uma série de cartas com ataques ao Exército, ao ex-presidente Hermes da Fonseca, potencial candidato da oposição, o jornal as atribuiu a Bernardes. Este imediatamente repudiou a autoria e disse que era uma fake news, nome que se dava em 1922 às notícias falsas.
A discussão agora é sobre se as cartas são ou não verdadeiras, se a letra é ou não do mineiro, se enviou ou não ao seu sucessor no governo de Minas Gerais. Experts, grafólogos nacionais e estrangeiros, técnicos de caligrafia, professores de português especializados em pontuação mergulharam em análise para divulgar um relatório final. O Correio da Manhã não se abala, continua atacando Bernardes e reafirmando que ele era o autor das ofensas ao Exército. Nada escapa da prensa do diário carioca, nem mesmo os apelidos do mineiro, que é tratado como Seu Mé, ou Rolinha.