O líder exige que o desfile da vitória seja o maior possível. É preciso mostrar ao mundo, especialmente para os americanos, a pujança das forças armadas nacionais. O local mais conhecido é a Praça Vermelha, ou bonita, como se diz em Moscou, ao lado do Kremlin. O palanque oficial com a liderança nacional fica postado na marquise, sobre o mausoléu de pedra vermelha onde se conserva mumificado o corpo de Wladimir Ulianov, o Lênin, líder da revolução comunista de 1917, quando derrubou o governo republicano e instalou a ditadura do proletariado. A parada militar, ao mesmo tempo, comemora a vitória sobre o inimigo e a recuperação da importância geopolítica do país. As nações ocidentais avaliam o surgimento da potência militar que tem planos para levar as fronteiras nacionais para o ocidente. A mídia sob o controle do governo tem ordens de dar a maior cobertura, reservar grandes espaços para o desfile militar e exaltar a bravura dos soldados e o patriotismo de todo o povo. As prisões estão cheias de dissidentes, oposicionistas, jornalistas e até mesmo políticos do partido oficial acusados de traição. A pena é morgar em um campo de concentração na gélida Sibéria. Nada pode turvar a festa mais importante do país.
As regiões consideradas estratégicas estão sob a mira dos burocratas do Kremlin. Especialmente a Ucrânia considerada a área agrícola mais produtiva da Europa, a sede da “terra negra”. A produção do trigo é um fator estratégico uma vez que alimenta não só a população ucraniana como a russa e de todos os povos espalhados pela Eurásia. De forma alguma a burocracia do Kremlin cogita permitir que ela se torne um país livre e que possa se aliar com o Ocidente. Por isso inserem a Ucrânia no mapa da concentração de forças militares que possam não só impedir um avanço contra o regime autocrata russo, como servir de base para um ataque em outros países da Europa Oriental. Não se afasta a possibilidade de uma Terceira Guerra, o que atemoriza parte da população mundial, dividida entre os que acusam os Estados Unidos de imperialismo, e os que acusam os russos de um social imperialismo. Está aberta uma guerra de versões, propaganda, marketing e até mesmo religiosa. A expansão russa está fora do controle. Os estrategistas ocidentais acreditam que a única forma de impedir esses avanços é a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte. Uma cláusula do acordo estabelece que se um membro for atacado, todos os outros reagem em solidariedade.
O dia 9 de maio é a comemoração mais importante do país. Marca a vitória contra o inimigo que opôs seríssima resistência ao avanço das Forças Armadas Nacionais. Lembra também a grande quantidade de civis que morreram diante das tropas inimigas, especialmente em Leningrado, onde pereceram aproximadamente um milhão de habitantes. O desfile é encomendado pelo ditador Josef Stalin, por meio de uma ordem do Gabinete do Supremo Comandante em Chefe da Forças Armadas da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Mobiliza 40 mil soldados do Exército Vermelho e 1850 veículos militares. Dura mais de duas horas debaixo de chuva, um mês depois da rendição do III Reich aos comandantes soviéticos. Na Ucrânia e em outros países da Europa Oriental os partidos comunistas locais lideram movimentos para ingressar na União Soviética e formam o que o primeiro ministro britânico, Winston Churchill, chama de Cortina de Ferro. A democracia liberal está com os seus dias contados com a instalação de chefetes locais subordinados à Moscou. Ninguém imagina que um dia a URSS possa se desfazer e os países submetidos optarem pela OTAN e o modo de vida ocidental. Expressar essa hipótese pode custar a vida diante de um pelotão de fuzilamento.