Há um confronto entre esquerda e direita. Entre os defensores da livre-iniciativa e a intervenção do Estado. Os estatistas propagam que as empresas estatais pertencem ao povo e, por isso, não devem ter como foco a geração de lucro. Não estão comprometidas em gerar dividendos para os acionistas, nacionais ou internacionais. Estes são rotulados de rentistas, sanguessugas e responsáveis pela acumulação das riquezas nacionais nas mãos de poucos. Defendem a distribuição da riqueza entre os mais pobres e o Estado é o instrumento adequado para que isso ocorra. Não concordam com a visão liberal de que o Estado não gera riqueza, mas sim as empresas privadas. Há exemplos no mundo onde os trabalhadores estão no controle do modo de produção e a burguesia limitada a poucas atividades. O Brasil é um país de grande potência, rico em matérias-primas e agricultura, e não deve abrir mão dessa herança natural em prol de capitalistas nacionais e internacionais.
Os liberais, por sua vez, fazem críticas duras contra o estatismo. Afirmam que a gestão se apoia em critérios políticos, permeados de corrupção, filhotismo, patriarcalismo e criação de uma burocracia cara e ineficiente. E o Estado, segundo eles, deve se concentrar nas questões básicas que estão em frangalhos, como segurança, educação e saúde. Outras atividades devem estar nas mãos dos empresários, que são geradores de empregos, promovem a concorrência com queda de preço dos produtos e melhoria da qualidade. A polêmica não é exclusiva do Brasil. É um debate que se faz em toda a América Latina, considerada subdesenvolvida e estacionada na periferia do capitalismo mundial. O radicalismo na disputa ideológica entre esquerda e direita não tem fronteiras e isso atrai a atenção das grandes potências mundiais, que dependem das matérias-primas originárias do continente latino-americano.
Os partidos políticos disputam a presidência da República com o foco de pôr em execução seus programas partidários e suas visões antagônicas de desenvolvimento. Esquerda e direita apresentam os seus líderes e o debate ganha a mídia, os sindicatos, e a população em geral que se interessa por política. O ponto de corte é a eleição marcada para o final de 1950. A direita liberal se concentra em apoiar o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato do Partido Social Democrático (PSD), com fortes bases no empresariado paulista e nos fazendeiros de Minas Gerais. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e outros grupos de esquerda se aglutinam em torno do nome do ex-ditador Getúlio Vargas. Atribuiu-se a ele o início de um processo de revolução industrial no Brasil que, até então, só tinha tido alguns soluços de crescimento industrial. Vargas é um candidato com amplo apoio popular, especialmente entre os trabalhadores. Sua bandeira de campanha é a criação de uma empresa estatal que tenha o monopólio da mais importante matéria-prima do mundo: o petróleo. Eduardo Gomes, acusado de chamar os trabalhadores de “marmiteiros“, perde a eleição. Vargas leva pelo menos dois anos para ver aprovado no Congresso a estatal do petróleo: a Petróleo Brasileiro Sociedade Anônima. Com essa razão social espera ganhar os dois lados da disputa. Os estatistas e os defensores do capital. Assim, a empresa nasce com capital misto.