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Coluna do Heródoto

Comitê de Crise

By 24 de março de 2020No Comments

A crise se abate em vários segmentos e atividades da sociedade. Imediatamente é constituído um comitê de crise. Esta é uma prática universalmente recomendável em situação de grave ameaça às pessoas, aos negócios e às atividades econômicas. Imediatamente o presidente reúne toda a sua estrutura e os principais assessores. São responsáveis por setores determinados e têm informações e análises técnicas que podem ajudar a combater a crise. Nas primeiras reuniões do comitê se estabelecem os porta vozes para cada um dos temas a serem divulgados para a população. O treinamento que receberam de suas assessorias é que um não deve invadir o espaço do outro, uma vez que nada mais saboroso para a mídia do que comparar duas declarações ou diretivas divergentes no grupo. Se isso acontece o desgaste é imediato e cabeças podem rolar.

A crise pode ser classificada como um Cisne Negro, segundo o consultor Nassim Taleb, autor de A Lógica do Cisne Negro. Um fato inesperado que vira tudo de pernas para o ar sem que ninguém pudesse prever nem o início nem o fim da crise. Algo semelhante à crise da bolsa em 1929 ou a chamada gripe espanhola, que matou mais do que as duas grandes guerras mundiais somadas. Por isso não adianta chorar sobre leite derramado, mas partir para uma contra ofensiva, através de iniciativas que arregimentem a todos. É uma hora de união, de uma única voz de comando, de mensagens previamente avaliadas e testadas para que não causem mais confusão do que já existe. Um verbo atravessado, um erro de digitação, um engasgo em uma estatística, uma demora para dar uma resposta ao que é considerado importante pelos jornalistas pode resultar em um aprofundamento da crise e dos prejuízos que certamente se seguirão.

As entrevistas coletivas são marcadas regularmente e espera-se que só dali saiam as informações para a população. O porta voz oficial e único, como é de esperar, é o presidente. Todos, à princípio, concordam. Os que estão mais perto da cúpula participam das entrevistas e todos falam a mesma língua. Mas como esmaecer essa unicidade de comunicação se os que estão distantes, e vivem situações diferentes daquelas vividas na matriz? Na medida que a crise se instala e as perspectivas são que ela não será resolvida em curto prazo, e os nervos começam a falar mais altos. Os gestores regionais vislumbram a possibilidade de sair da crise mais forte do que o atual comitê de crise e reservar um espaço para sua própria ação. Em pouco tempo há uma evidente disputa pelo poder na corporação e ganha as manchetes dos sites. De uma competição pela posse dos cargos mais importantes na empresa, virou para uma corrida pela substituição do presidente do conselho diretor. Em breve haveria eleição para o cargo e é preciso ganhar os votos dos acionistas na reunião anual da corporação. Um outro Cisne Negro, a assembleia de acionistas, se reúne e decide demitir a todos e sair no mercado em busca de novos e competentes gestores.