Não há o que comemorar. Os cem dias ocorrem no meio de uma batalha sangrenta. A Europa assiste bestificada a mais uma etapa da guerra que, segundo os analistas, é inevitável. A derrota do inimigo está intimamente ligada à Rússia. Os governantes russos estão famintos de territórios. Esperam, com uma rápida campanha militar, derrotar o inimigo e avançar sobre regiões da Europa Oriental. Há uma ameaça geral sobre aqueles que estão mais próximos das fronteiras ocidentais da Rússia. Temem que os exércitos invadam o país e o anexem. Há o sonho de unificar politicamente as populações eslavas, de fala russa e a edificação da mãe pátria. A maior ameaça é sobre a Polônia. A região é cobiçada pelas suas riquezas naturais e localização estratégica. O líder do conflito conhece bem… A última vez que o exército ocidental invadiu a Rússia saiu derrotado, graças ao general inverno e aos milhares de soldados mortos e usados como bucha de canhão.
Os diplomatas estão de cabelo em pé. A Europa está à mercê de um autocrata, um verdadeiro ditador que está no poder há mais de uma década. Eles articulam a formação de uma aliança militar que possa bater de frente com o invasor. Este tem um exército bem treinado e que acredita que sua missão é libertar os povos que vivem ameaçados por governos absolutistas. Repete incansavelmente que é um libertador de povos e, por isso, ganha o apoio da população local. O moral da tropa é elevado. A mídia repete à exaustão a propaganda do líder para convencer os povos que devem apoiar os exércitos estrangeiros. Estes são acusados de pilhar tudo o que encontravam pela frente, levar a comida que encontram nas casas, estuprar as mulheres e assassinar a sangue frio os homens que resistem ou não ao assalto do inimigo. Na capital do agressor, o clima é de estupefação. Muita gente foge do país temendo perseguição política, perda dos bens, prisão sem processo e fuzilamento dos considerados traidores.
A conferência das grandes potências da Europa vira uma balburdia com a notícia. Ninguém acredita nos boatos que se espalham rapidamente entre as nações que se reúnem para desenhar um novo mapa político do continente. Ele está de volta! O autocrata Napoleão Bonaparte, preso na ilha de Elba, depois da derrota frente à Rússia, desembarca em terra firme e junta uma força militar. O exército real mandado para prendê-lo passa para o seu lado. Em Paris, há pânico entre os que aderiram ao novo governo do rei absolutista Luís XVIII. Os jornais estampam grandes manchetes e aumentam o terror: “O monstro fugiu do local do exílio”, “O ogro desembarca em Cabo Juan”, “O tigre está em Gap”, “O monstro avança até Grenoble”, “O usurpador está a 60 horas da Capital”, “Bonaparte adianta-se em marcha acelerada, mas é impossível que alcance Paris”, “Napoleão chega amanhã às portas de Paris”, “O Imperador Napoleão Bonaparte está em Fontainebleau”, “Sua Majestade o Imperador entra solenemente em Paris”. Rússia, Prússia, Inglaterra e Áustria se juntam para derrotá-lo definitivamente.
O destino do ditador está traçado e vai terminar seus dias no exílio no meio do Atlântico.