O Brasil está despreparado para o surto da doença. E não é a primeira vez. O governo tem outras prioridades do que testar e desenvolver vacinas que possam combater os vírus assim que se manifestem na população. A pesquisa básica é praticamente inexistente. Como ela consome investimentos e o resultado é de médio e longo prazo, os políticos descobrem que isso não dá voto. Não contribui para as eternas reeleições nas franjas do poder. É diferente quando se tem o remédio e se promove amplas campanhas de vacinação, com cobertura da mídia, eventos públicos, presença de autoridades e uma massa que acompanha tudo de forma apalermada. Não sabe se o mérito da vacina é ou não da autoridade, não sabe se a pesquisa foi feita ou não no Brasil, se a tecnologia é ou não comprada com o dinheiro dos impostos que todos pagam. O que importa é o início da vacinação e todos ficam felizes, governo e povo.
A epidemia assola o país incapaz de impedir o aumento assustador dos casos da doença. Há dificuldade de importação a curto prazo uma vez que a quantidade necessária para imunizar uma população de milhões de habitantes, não está disponível nos laboratórios de países chamados de avançados. O número de mortes aumenta significativamente especialmente no estado de São Paulo, o mais populoso do pais. Os trabalhadores empilhados nos trens e ônibus deficientes são os mais atingidos pelo vírus. Para eles não há alternativa, tem que trabalhar para sobreviver e por isso se arriscam diariamente a sofrer uma contaminação. As elites mais abastadas, ainda que isoladas em suas residências confortáveis, começam a ser afetadas. Talvez no contato com o porteiro, faxineiro, guarda do condomínio que moram. Ou através da empregada doméstica. Não é possível viver sem eles ainda que representem riscos para toda a família. Os casos mais graves estão confinados nas UTIs dos hospitais públicos, mas chegam também nas salas de aula dos colégios mais caros da cidade.
A solução é importar. O governo percebe que a epidemia pode se alastrar ainda mais no eixo Rio-São Paulo, o de maior concentração populacional do pais. Daí ocorre um investimento na área de produção de vacinas no Brasil com a transferência de tecnologia importada da Europa e a criação de um instituto de tecnologia em imunobiológicos. Só a pressão do número de mortos leva o governo a tratar com seriedade a doença e sua propagação. O instituto é criado em 1976 na Fiocruz, conhecido como Bio Manguinhos, e responsável pela produção das vacinas contra a meningite meningocócica A e C. O governo controla os veículos de comunicação e o noticiário sobre a gravidade da doença é proibido pela censura do período autoritário. O Brasil vive em plena ditadura, que o vírus insiste em desafiar impunimente. O número de mortes chega a média de 1,15 por dia e pressiona o governo a iniciar uma ampla campanha de vacinação que começa pelos bairros periféricos e se espalha por toda a cidade de São Paulo e depois pelo país, com a vacinação de 10 milhões de pessoas em apenas 4 dias. A parte principal da logística fica sob a responsabilidade do exército. A epidemia é contida, mas a endemia não, segundo a Revista Ser Médico, do CREMESP.