Os militares são envolvidos no turbilhão político. Tudo o que a democracia brasileira precisa é que as questões políticas sejam resolvidas entre os civis eleitos. E não militares. Desde o fim da ditadura a esperança é que eles se afastem dos turbilhões políticos e cumpram o que está escrito na constituição brasileira. No entanto, os grupos políticos de lado a lado, tentam chegar até os quartéis sob os mais diversos motivos. Dentre eles as ameaças que a sociedade sofre com a posse dos eleitos. Não basta ganhar eleição, tem que ter maioria no Congresso Nacional e a experiência já mostrou que sem essa base o presidente não governa e tem o seu mandato equilibrado na corda bamba da conquista de apoio através de favores, distribuição de cargos e promessas que nunca se sabe se serão cumpridas ou não. Tudo isso mostra que o edifício político brasileiro não tem bases sólidas e pode soçobrar na próxima crise. Real ou urdida nas redações jornalísticas e estampadas nas manchetes de primeira página, as manchetes dão uma contribuição decisiva para a instabilidade geral.
A expressiva vitória do presidente da república, no viés da oposição, não é suficiente para que ele exerça o poder. Ela quer o impedimento não só do presidente, mas de toda a chapa eleita. O governo enfrenta uma das mais cerradas oposições da história da república, movida por partidos, empresários, maioria dos meios de comunicação e… setores militares. O debate descamba para o campo econômico e coloca de um lado os liberais, favoráveis à livre iniciativa, concorrência, propriedade privada inviolável e liberdade de lucrar. De outro os que defendem a limitação da propriedade privada com fins sociais, reforma agrária sem indenização dos proprietários, chamados de latifundiários, participação decisiva do Estado na economia, com os produtos considerados estratégicos sob o controle de empresas nacionais. Entre eles o petróleo, motivo de uma campanha que nasceu e frutificou no segundo governo de Getúlio Vargas com a criação da Petrobrás.
Tudo o que se opõe ao governo ganha espaço na divulgação. O discurso de um coronel em uma solenidade pública atinge diretamente o presidente. O ministro militar exige a aplicação do estatuto das Forças Armadas, no que não é atendido. Estoura mais uma crise, desta vez atinge a quebra da hierarquia militar, coisa inaceitável na cúpula do exército. Batalhões ocupam os pontos estratégicos do Rio de Janeiro. O ministro da Guerra, Marechal Lott, assume o comando do levante e manda cercar o palácio presidencial e outros órgãos públicos. O presidente interino se esconde em um navio da marinha e parte para Santos. Lott e seu grupo querem que os candidatos eleitos, Juscelino Kubistchek e João Goulart, tomem posse uma vez que ganharam a eleição com o apoio, inclusive, da esquerda. A crise chega ao auge com a decretação do estado de sítio e o afastamento da possibilidade de conflito armado entre exército de um lado e a marinha e a força aérea de outro. A saída é respeitar o resultado das urnas, dar posse aos eleitos e tocar o barco. Juscelino chega ao fim do mandato e passa a presidência para Jânio Quadros.